Colégio La Salle

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domingo, 3 de janeiro de 2010

D. Mauricio anuncia planos para 2010.


O Arcebispo de Botucatu D. Mauricio Grotto Camargo esteve em audiência com o Papa Bento XXIII, no final de novembro. No encontro, durante 15 minutos o Papa quis detalhes sobre os Católicos que vivem na província arquidiocesana e passou detarminações de trabalho.

D. Mauricio também esteve em diversos Dicasterios [espécie de Ministérios do Vaticano] De presente ao Papa, entregou o livro “Achegas para a Historia de Botucatu”, escrito por Hernani Donato.

Nesta entrevista, D. Mauricio explica seu trabalho na Pastoral da Mobilidade, que trabalha contra o trafico de humanos e o escravagismo.

Ele também conta que conversou com seu antecessor D. Aloysio Leal Penna, que está se recuperando do trauma craniano que teve, quando passou mal e caiu batendo a cabeça no altar da Catedral. D, Aloysio disse sentir saudade dos amigos que deixou em Botucatu.

Confira:

Entrelinhas - Há algumas semanas o senhor esteve com o Papa Bento XVI. Como o senhor relata esse encontro e sobre o que conversaram?

D. Maurício - Fui recebido pelo Santo Padre em audiência pessoal no dia 23 de novembro. Cada bispo tem um encontro pessoal, de aproximadamente quinze minutos, com o Papa. É um dos momentos mais importantes da visita. O bispo dialoga com o Santo Padre sobre sua vida, seu Ministério Episcopal, sobre o presbitério, as vocações, a formação de novos sacerdotes, o plano de ação pastoral e também renova sua comunhão e fidelidade para com o Sucessor de Pedro e toda a Igreja.
Não conheço nenhum bispo da França, nenhum bispo da Inglaterra, da África, da Índia, da China ou da Austrália. Nem sou conhecido por algum deles. Mas, conheço o Papa e o Papa me conhece e também conhece cada bispo do mundo todo. Assim, quem está em comunhão com o Santo Padre está em comunhão com todos os sucessores dos apóstolos e com toda a Igreja. De fato, Jesus disse a Pedro: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja... Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”, [em Matheus 16,18s]
Esta visita, chamada de “Ad Limina Apostolorum”, é uma verdadeira peregrinação aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, colunas da Igreja; é um profundo retiro espiritual, além de fortalecer os laços de comunhão afetiva, teológica e pastoral com o Santo Padre e com toda a Igreja. Os bispos celebram a Eucaristia nas quatro grandes Basílicas de Roma: São Pedro; São Paulo; Santa Maria Maior e a Basílica de São João do Latrão.
A visita Ad Limina é constituída também de encontros com alguns Dicastérios – Departamentos de Governo da Igreja – para tratar de questões práticas atuais. Para facilitar a compreensão, seria como ir a Brasília e visitar o Ministério da Educação, o Ministério da Saúde, etc. Para a visita deste ano, os bispos do Estado de São Paulo agendaram encontros em quatorze Dicastérios. São, no máximo, dois por dia. Uma jornada e tanto! Por fim, há uma audiência coletiva em que o Santo Padre dá uma mensagem espiritual e pastoral a seus irmãos sucessores dos apóstolos.

Entrelinhas - O senhor coordena pela CNBB a Pastoral da Mobilidade Humana, uma das questões das mais importantes atualmente, pois diversos povos, por conta principalmente de guerras, governos autoritários, sectários em relação às culturas e crenças, estão migrando para regiões de melhor estabilidade e tolerância. No entanto há casos de escravidão ou semi-escravidão. O senhor tratou disso com o Papa?

D. Mauricio - Não. Este meu trabalho junto à CNBB não entrou na pauta de nosso diálogo porque o tempo era insuficiente. Entretanto, o Papa acompanha de perto todas as questões relativas ao complexo fenômeno das migrações. Para isso existe o Pontifício Conselho para os Migrantes e Itinerantes. Inclusive o Santo Padre acaba de divulgar a mensagem por ocasião do dia mundial do Migrante e do Refugiado, celebrado sempre no dia 18 de janeiro.

Entrelinhas - Um dos fatores de estímulo às migrações são as questões culturais, religiosas ou econômicas. Pouca gente sabe, mas em diversos países, cristãos são perseguidos. No Brasil a Pastoral da CNBB qual é a situação em maior intensidade?

D. Mauricio - Tanto no Brasil como no resto do mundo, a situação mais degradante dentre os problemas relativos ao fenômeno das migrações é o tráfico de seres humanos. No mundo do crime organizado este negócio ilícito e desumano já corresponde a terceira maior movimentação financeira do mundo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e de armas. As pessoas são enganadas, iludidas por promessas fabulosas de bom emprego e bom salário. Mas quando chegam ao destino descobrem que se tornaram escravas. A maior parte destas pessoas é constituída por mulheres jovens, às vezes até adolescentes, submetidas a todo tipo de exploração sexual. Existe também uma pequena porcentagem de homens cuja exploração se dá pelo trabalho escravo no campo.

Entrelinhas - Antes de Bento XVI assumir o ‘Papado’, o Cardeal Joseph Ratzinger tinha um comportamento extremamente conservador, porém como Papa, embora tenha mantido posições conservadoras, têm assumido comportamento relativamente mais tolerante, contentando setores diversos do clero. Como isso acontece em sua opinião?

D. Mauricio - Antes de ser eleito Papa, o Cardeal Ratzinger tinha um trabalho bem específico à frente da Congregação para a Doutrina da Fé. Como Papa ele assumiu outra responsabilidade muito mais abrangente e profunda. Antes ele era conhecido apenas por defender a ortodoxia da fé; agora ele se tornou conhecido na integridade de sua pessoa, como pai e pastor. Nem ele mudou nem a Igreja mudou seus dogmas.

Entrelinhas - Nos dois encontros que o senhor teve com o Papa houve algum interesse dele sobre questões da nossa região ou mesmo SP e sobre o seu trabalho na Pastoral da Mobilidade. O senhor poderia relatar?

D. Maurício - O Papa se interessou em saber sobre os efeitos do secularismo em nossas crianças, adolescentes, jovens, bem como sobre a instituição familiar. A preocupação dele é a mesma de Jesus Cristo: “Que todos tenham vida e vida plena” (Jo 10,10). O Papa disse para nós, bispos do Estado de São Paulo: “A formação autenticamente cristã da consciência é decisiva para uma profunda vida de fé e também para o amadurecimento social e o verdadeiro e equilibrado bem-estar da comunidade humana.
Concretamente, a questão da vida e da sua defesa e promoção não é prerrogativa unicamente dos cristãos. Mesmo se recebe uma luz e força extraordinária da fé, aquela pertence a cada consciência humana que aspira pela verdade e vive atenta e apreensiva pela sorte da humanidade. Venerados Irmãos, falai ao coração do vosso povo, acordai as consciências, reuni as vontades num mutirão contra a crescente onda de violência e menosprezo do ser humano.”

Entrelinhas - O senhor tem sido um Arcebispo de muitas viagens, por compromissos acadêmicos na formação de sacerdotes e de interesse social da CNBB. Existe a possibilidade de eventualmente o Arcebispo nomear um Bispo Auxiliar para administração da Diocese. Isso está na ordem do dia ou ainda não se faz necessário?

D. Maurício - Essa possibilidade nunca me passou pela cabeça. Ainda não existe tal necessidade.

Entrelinhas - O ultimo censo indica que a projeção de cristãos não Católicos Romanos já chega a percentuais entre 25 a 30% das comunidades. Aqui em Botucatu a Diocese tem se preocupado com essa questão?

D. Maurício - No âmbito da Arquidiocese de Botucatu os números são bem diferentes. Os Católicos são quase 80%. Existe cerca de 3% que se declaram sem religião e 2% de espíritas. Os evangélicos são pouco mais de 15%. Mas, o que nos preocupa não é tanto a quantidade quanto a qualidade. Não basta ser católico só de nome.
Nossa preocupação maior é com o resgate da cidadania cristã-católica dos que foram batizados, fizeram a primeira Eucaristia e muitos até mesmo a Crisma. Nossa preocupação é que o católico tenha um comportamento social, econômico e político condizente, coerente com a dignidade de um discípulo de Jesus Cristo, capaz de ser presença significativa no meio em que vive. Ser “sal da terra, luz do mundo e fermento na massa” conforme as próprias palavras de Jesus.

Entrelinhas - Quais os planos para 2010?
D. Maurício - Para 2010 devemos retomar com todo vigor o 7º Plano Arquidiocesano de Pastoral: PROPAMI, Programa Paróquia Missionária, tendo o Sistema Integrado de Nova Evangelização – SINE como metodologia, com o objetivo geral de: “levar a consciência, o ardor e o trabalho missionário, evangelizador a todas as paróquias, buscando superar o modelo sacramentalista, tornando-as missionárias, comunidade de comunidades”.

Os objetivos pastorais prioritários para o futuro próximo são:

1 - Completar a implantação da pastoral familiar em todas as paróquias, tornando-a um dos eixos transversais de toda a ação evangelizadora, por meio dos Conselhos Missionários Paroquiais;

2 - Consolidar o processo de criação do Setor Juventude na Arquidiocese, tornando-o um dos eixos transversais de toda a ação evangelizadora, por meio dos Conselhos Missionários Paroquiais;

3 - Dinamizar a Pastoral Social, por meio da Cartas Arquidiocesana. O principal meio para a realização destes objetivos é o PROPAMI-SINE que corresponde muito bem a todas as orientações do Documento de Aparecida.

Entrelinhas - D. Aloysio seu antecessor desligou-se em situação dramática da Arquidiocese. Era um homem dedicado e trabalhador para a Igreja. O senhor tem informações sobre seu estado de Saúde?

D. Maurício - Graças a Deus, Dom Aloysio José Leal Penna está bem melhor. Conversei com ele por telefone no dia 02 de dezembro pela manhã. Disse que está com saudades de todos e que assim que for possível virá passar uns dias em Botucatu.

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